terça-feira, 26 de março de 2019

Manhã curta-Passeio à Moita dos Ferreiros

Sozinha, chamam-me na escuridão do quarto os sons e as cores do dia lá fora, que se ergue claro, com vida, flores, histórias (tristes, algumas), palavras, segredos e silêncio, até que a noite maior, traga o descanso e o amanhã que chegará (talvez..). 

Vou em busca da paisagem, da memória, do que me trás o olhar, do saber,  de qualquer coisa.... Vou!
Os dedos, trémulos e tortos passam pela folha de papel, segurando os lápis e pincéis (ainda). Hoje parei na Moita dos Ferreiros, uma vila pequena do concelho da Lourinhã, junto a um moinho, o do "Boneco" como lhe chamam. Mesmo no centro da povoação, acabada que estava a "exacta" medida de eu o ver, esboçar e pintar, eis que chega o seu proprietário: O Sr. Valentim. 

Bom final de manhã, palavras boas que repetiam com amor e paixão, os sabores e valores daquela profissão que desde menino exercia no moinho do seu avô, um orgulho: "o maior do concelho". Construído em 1940 (anteriormente de madeira), "cresceram-me aqui os dentes...", dizia, e, "desde os 14 anos que aqui trabalho". Conversa feliz de palavras e olhares, que subiam cuidadosamente os três andares do moinho ao som dos búzios e do vento. O primeiro piso para o trigo, o segundo para o milho, o motor que substitui o vento (quando não o há), a peneira com que demonstra aos meninos como se separa a farinha do farelo, as roldanas escondidas que rolam o telhado na direcção do vento, os amparos de madeira ("que mais nenhum tem") e que teve que pôr porque uma senhora que subiu ao andar de cima "não queria descer nem por nada com medo e tive de ir lá com umas cordas buscá-la, e hoje dá-me jeito, porque com o AVC que tive, também me ajudam e amparam na descida." 
- " Gosta do meu desenho Sr. Valentim ? "
- " Ahhh... é este? Está parecido..."

Que viva de mãos dadas com o seu moinho por muitos e muitos anos Sr. Valentim!  Digo eu, muito grata por existir (por existirmos).


Santuário da Misericórdia, ainda na freguesia Moita dos Ferreiros. Lugar calmo, ergue-se no meio dum arvoredo de muitos verdes, que respira calmo o silêncio das memórias. Conjunto edificado que contempla vários cómodos, sendo o principal a Ermida de Nossa Senhora da Misericórdia e a Casa da Ermitã (em anexo). Envolvente sócio-cultural e de culto, encanta desde tempos remotos as populações desta zona (e não só). A tradição dos Círios à Senhora da Misericórdia, a feira de Setembro e a Fonte do  "Rastinho" (com água de poderes curativos e marca plantar de Nossa Senhora, assim reza a lenda),  trouxeram ao local romarias, vindas de várias zonas. 

Em tempos falei com a Ermitã, uma senhora muito simpática, que me deu todas as informações que precisei para elaborar uma visita guiada e um artigo, que viria depois a ser publicado no Jornal "Alvorada". Um dia conto-vos tudo!
Até lá!

Atropelando a arquitectura e tudo o mais (oliveiras azuis, meu Deus!...), aqui fica o desenho que elaborei. 
O almoço chama-me... Até breve.