segunda-feira, 9 de abril de 2018

Dia Nacional dos Moinhos | parte da manhã

Desafiei os Oeste Sketchers a comemorar o Dia Nacional dos Moinhos, com um encontro de desenho em Torres Vedras. Desafio aceite, roteiro desenhado: Bordinheira, Caixeiros, Azenha de Santa Cruz. Quando saí de casa, aproveitei para treinar e começar o dia com esta paisagem, uma velha conhecida, toda ela marcada por moinhos tradicionais e industriais (energia eólica).

Aproveito para agradecer aos coordenadores (Ana Ramos, Pedro Alves e Bruno Vieira), por esta resposta, mas sobretudo pelo excelente trabalho que têm desenvolvido.


Junto às Estação de Serviço BP Casalinhos de Alfaiata (ilustração do autor). 

10h - os desenhadores vão chegando. Algumas desistências devido à chuva, mas tivemos umas estreias no grupo, a Susana Coelho membro do grupo Évora Sketchers e uma estreia absoluta no desenho, a Carla Inácio de Torres Vedras. O primeiro a chegar foi o Sr. Joaquim Constantino, mais conhecido por Quim, moleiro e nosso anfitrião. A sua casa fica junto ao moinho e abaixo da casa fica a moagem. O quotidiano deste moleiro  divide-se essencialmente por estes três espaços. O seu patrão é o vento, pois é ele quem lhe dá ordens e sustento. Apesar de hoje ter a sua moagem mecanizada, o moinho continua a moer cereais de forma tradicional. A sua produção divide-se entre o artesanal e o industrial, mas o que não se divide é a qualidade da farinha - única e de excelência.  O Sr. Joaquim é a terceira geração de moleiros, tudo começou com o seu avô, ainda no séc. XIX, com o Moinho Frade, que actualmente pertence a uma prima. O seu pai continuou com a profissão e no ano de 1946 construiu o segundo moinho do Casal Moinho Frade, o agora conhecido "Moinho do Constantino".

 Sábado costuma ser um dia agitado, mas a generosidade deste moleiro levou-o a reservar a manhã para nós.  Colocou as velas a jeito, mas não as soltou, devido ao mau tempo. Apenas para a fotografia... ou melhor, apenas para o desenho.



 

 




 



   (Fotografias do autor)
A chuva demorou a chegar, até por que "ela anda ali mais para o lado da Freiria. Lá está negro, eles andam a rezar pouco", rematava assim o Sr. Joaquim com a sua risada que tão bem o caracteriza. Aproveitei para fazer mais um desenho.




À direita o original Moinho do Constantino e à esquerda uma réplica feita pelo Sr. Joaquim (ilustração do autor).

Afinal não é só na Freiria que se reza pouco, na Bordinheira também. A chuva chegou, mas em forma de aguaceiros rápidos. Os moinhos e a moagem transformaram-se em abrigos. O excelente estado de conservação em que se encontram, conferiram todo o conforto necessário para uma boa manhã de desenho. As abertas eram aproveitadas por alguns. Outros transformaram a moagem num verdadeiro atelier, e ainda houve quem preferisse o automóvel.


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(Fotografias do autor)

E outros, como eu, aproveitaram para saber o que é "habitar" um moinho. Instalei-me no 3º piso, junto ao capelo. O som da chuva a bater no capelo é música para os ouvidos. A visão perde-se perante tantos pormenores - madeira, pedra, metal, cordas... Tanto para desenhar, tanto para Ver.  Um lugar mágico por um lado, mas por outro lado leva-nos a imaginar a vida dura que os moleiros tinham.

Desenho feito no 3º piso do moinho Frade (ilustração do autor).

No final, lancei o desafio de deixarmos com o Sr. Joaquim uma lembrança da nossa passagem. Pegar numa saca de farinha nova e personaliza-la com um desenho de cada desenhador. Aceite e superado.


(Fotografias do autor)


No momento da habitual partilha e foto de grupo, tivemos o privilégio de conhecer o moleiro mais antigo da freguesia da Ventosa, o Sr. Benedito Ferreira Carinho, que este ano celebrará 90 anos de vida, quase toda dedicada aos moinhos. Nunca teve outra profissão, foi amor para a toda a vida e isso percebe-se no brilho dos olhos, quando fala sobre os moinhos e os moleiros. Imaginem só as histórias que ele tem para contar. Combinámos um encontro, para conhecer o seu velhinho moinho do Cortiço, mas sobretudo para ouvir as histórias que tem para partilhar. 

O seu moinho, localizado em Bonabal, está abandonado desde a década de 1970, quando "uma espécie de tufão passou por lá e levou o capelo. Foi uma dor de alma, um dos dias mais tristes da minha vida, nem sabia o que fazer. Mas fiz-me ao caminho e construí uma pequena moagem e continuei a trabalhar até não poder mais. Hoje é o meu filho que segue com o negócio, mas o moinho nunca mais foi recuperado, continua lá em ruína, é uma tristeza. Mas custa muito dinheiro arranjar aquilo..." (Sr. Benedito)






Enquanto conversava com Sr. Benedito, saíram uns registos para memória futura.

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